No passado, era comum avistar grupos de papagaios-de-peito-roxo sobrevoando as matas da região que hoje abriga o Parque Nacional das Araucárias, SC. Porém, as ações humanas, como desmatamento e captura de animais para o comércio ilegal, reduziram drasticamente o número dessas aves, que levou à extinção da espécie no local.
Com o intuito de mudar esta realidade, foi iniciado em 2010 o projeto de reintrodução da espécie no parque, oferecendo suporte necessário para a formação de uma população viável à longo prazo.
Até o momento, 186 papagaios já foram soltos no local, sendo 13 em Janeiro de 2011, 30 em Setembro de 2012, 33 em Junho de 2015, 7 em março de 2016, 30 em junho de 2017, 40 em outubro de 2018 e 33 em março de 2019. Todas as aves passam por um rigoroso processo de reabilitação, que incluem exames clínicos e laboratoriais, análise genética, além de treinamentos comportamentais que os preparam para a vida na natureza. Os papagaios que obtém resultados satisfatórios são identificados por rádio-colares, microchips e anilhas cedidas pelo Centro Nacional de Pesquisa para Conservação de Aves Silvestres. Eles são transportados para o Parque Nacional das Araucárias e colocados em um viveiro. Após um período de ambientação, a soltura é realizada de maneira branda até que voltem definitivamente à floresta.
O monitoramento pós-soltura é realizado mensalmente pela equipe do Instituto Espaço Silvestre através de observações, escuta de vocalizações, drone e rádio-telemetria. Relatos de membros da comunidade treinados para tal finalidade através da ciência cidadã são analisados. Os dados provenientes do monitoramento mostram que papagaios-de-peito-roxo, vítimas do tráfico de animais silvestres, podem ser reabilitados, soltos e até reproduzem com sucesso.
Para os treinamentos comportamentais, atualmente contamos ainda com dois projetos de mestrado e doutorado que visam treinar os papagaios para fuga de predadores e para reconhecerem e distinguirem o ambiente de alimentação e dormitório. Um dos projetos, intitulado "O papel do enriquecimento ambiental na preparação comportamental do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) para reintrodução no Parque Nacional das Araucárias, SC" consiste no preparo, oferecimento e análise de enriquecimentos ambientais durante a reabilitação dos papagaios que estão no Espaço Silvestre. Além disso, há um treinamento para que os papagaios possam permanecer em uma área durante o dia e outra durante a noite, simulando as áreas naturais de alimentação e dormitório. Já o projeto de doutorado intitulado "Treinamento anti-predador de papagaios-de-peito-roxo em processo de reabilitação para reintrodução" consiste em testar as habilidades de resposta a predadores durante o processo de reabilitação dos papagaios. Primeiro, os papagaios serão expostos a sinais visuais e auditivos de predadores para avaliar as habilidades de reconhecimento e fuga de cada indivíduo. Dependendo dos resultados deste teste, os papagaios que não possuírem essas habilidades passarão por um treinamento anti-predador. O objetivo deste treinamento é garantir que os animais tenham as habilidades adequadas de detecção e defesa para predadores, necessárias para a sobrevivência na natureza.
Estudar a genética das populações é importante para a conservação das espécies e do ambiente em que vivem. Isso porque a natureza está em constante mudança e, para se adaptar à essas modificações, uma espécie e/ou uma população precisa ter variabilidade genética (os indivíduos precisam ser diferentes geneticamente). Mas para garantir essa variabilidade genética é necessário inicialmente conhecê-la. Além disso, será possível, através da genética, auxiliar programas de reprodução em cativeiro, com a escolha do melhor par genético, ou seja, aqueles indivíduos que apresentam menor chance de parentesco. As análises iniciaram com o grupo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), sob coordenação da Bióloga Drª Flavia Torres Presti e agora estão sendo realizadas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pela equipe do grupo de pesquisa em Evolução Molecular e Forense coordenado pela Profª Drª Andrea Rita Marrero.
Realizamos inicialmente análises genéticas de 60 papagaios soltos no Parque Nacional das Araucárias e, até o momento, um filhote nascido na natureza. Além disso, para comparar a variabilidade genética, analisamos 60 indivíduos provenientes de cativeiro. Os resultados mostram uma diversidade genética semelhante quando comparada à de outras espécies de papagaios, alguns ameaçados e outros não ameaçados de extinção. Quando comparada a diversidade genética dos indivíduos soltos com os cativos, não existe diferença significativa, bem como a presença de agrupamentos genéticos. Os dados mostram que possivelmente os indivíduos soltos no Parque estão representando a diversidade existente na espécie. Esse resultado é promissor para a conservação a médio e longo prazo, pois é importante que a população tenha variabilidade genética para sobreviver frente à mudanças ambientais. Com o estudo genético também será possível monitorar e aconselhar indivíduos para futuras solturas a fim de aumentar a diversidade genética da população natural, assim como recomendar casais importantes para reprodução em cativeiro, caso seja adotada essa estratégia de conservação. Novas análises buscam avaliar um maior número de indivíduos e outras regiões do DNA dos papagaios, permitindo o gerenciamento genético da população do Parque Nacional das Araucárias.
Além de visitas às propriedades, palestras são ministradas em escolas e empresas em todas as comunidades de Passos Maia e Ponte Serrada. A campanha de proteção ao papagaio-de-peito-roxo é mantida com a distribuição de panfletos explicativos, histórias em quadrinho, adesivos, imãs de geladeira, calendários anuais e mensagens diárias na Nossa Rádio. Também capacitamos e distribuímos Guias de Atividades Educativas para professores. Esses materiais estão disponíveis aqui em formato digital e podem ser usados livremente. A espécie se tornou tão popular localmente que foi escolhida pela comunidade para representar a fauna na logomarca do Parque, e está estampada em selos postais, atrás de ambulâncias, ônibus e vans escolares dos municípios de Passos Maia e Ponte Serrada. Há uma exposição de arte na Prefeitura de Ponte Serrada e uma fotográfica na Prefeitura de Passos Maia, além da exposição fotográfica itinerante que visita diversas cidades do país.
Foram realizadas oficinas em parcerias com escolas de Ponte Serrada e Passos Maia para a construção de mídias de divulgação científica com as crianças da região. Dez histórias foram escritas, narradas pelas crianças e transmitidas na Nossa Radio diariamente durante dois meses. Produziu-se também um curta metragem ("Conversa Conserva") que conta um pouco mais dessas ações junto às escolas da região. O filme fez parte de um festival de cinema para crianças que foi realizado em quatro escolas dos dois municípios. Esses materiais podem ser encontrados em nosso canal do YouTube.
Os roxinhos já alcançaram mais de 2 milhões de pessoas no mundo!
O projeto de geração de trabalho e renda para a comunidade local estimula o desenvolvimento econômico, inclusão social e conservação de espécies ameaçadas, como o papagaio-de-peito-roxo. Iniciado em 2013, esse projeto visa agregar valor econômico à presença dos papagaios em vida livre, através da criação de peças artesanais com temas ambientais, gerando assim uma oportunidade de trabalho e renda extra para as mulheres que vivem no entorno no Parque Nacional das Araucárias, SC.
O grupo do município de Passos Maia, conhecido como "Amigas dos Roxinhos", produz camisetas, aventais, bolsas, lixinhos para carro e peças variadas. Os produtos já estão disponíveis e todo o valor é revertido para as artesãs e associações locais. Suas rendas já aumentaram 62%. Visite nossa lojinha virtual.
Em setembro de 2015 foi criada a Rede de Proteção ao papagaio-de-peito-roxo visando responder a eventos envolvendo papagaios soltos. Essa iniciativa melhorou efetivamente a comunicação entre autoridades locais, resultando no aumento da fiscalização e nos esforços de resgate de aves silvestres no Parque, trazendo benefícios diretos e indiretos aos papagaios soltos.
A rede conta com membros do Instituto Espaço Silvestre, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina, Polícia Militar Ambiental, Polícia Civil, Procuradoria Pública, Conselho Consultivo do Parque Nacional das Araucárias e Prefeituras de Passos Maia e Ponte Serrada.